Estudo da UESC revela bactérias que reduzem replicação de vírus em ácaros-praga e aponta potencial para agricultura sustentável
- Pos-Graduacao Genetica Biologia Molecular
- 29 de mai.
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Em um estudo inovador publicado na revista Frontiers in Microbiology (doi:10.3389/fmicb.2025.1570606), o Dr. Eric Roberto Guimarães Rocha Aguiar, do Departamento de Engenharias e Computação (DEC/UESC), e o doutorando Lucas Yago Melo Ferreira, do Programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular da UESC, revelaram descobertas de grande importância para a agricultura e a proteção de cultivos, além de ter possíveis desdobramos em estratégia de controle de arbovírus em mosquitos.
Utilizando técnicas avançadas de bioinformática, a equipe estudou o ácaro-praga Tetranychus truncatus, responsável por prejuízos milionários às plantações, levando à identificação de 17 vírus (14 novos e 3 conhecidos). Dentre os conhecidos destacam-se dois vírus patogênicos: o Potato virus Y, que ataca lavouras de batata, e o Cherry virus A, que afeta cerejeiras. Esses achados sugerem que o ácaro pode atuar como vetor emergente dessas doenças, facilitando sua disseminação em escala agrícola.
O aspecto mais promissor do estudo, no entanto, foi a descoberta de que duas bactérias simbiontes do ácaro conseguem frear a replicação viral. Foi confirmado que Wolbachia pipientis reduz em mais de 90% a diversidade e a carga viral (vírus de fita simples de RNA polaridade positiva – ssRNA+) em populações infectadas, assim como nos mosquitos, abrindo caminho para estratégias de controle biológico baseadas em microrganismos aliados. Além disso, pela primeira vez, demonstrou-se que Spiroplasma ixodetis possui capacidade semelhante de restringir a multiplicação viral, tornando-se a terceira bactéria conhecida com esse potencial em artrópodes. Esses efeitos antivirais ocorrem principalmente por meio da ativação da imunidade do hospedeiro e da competição por recursos intracelulares.

Curiosamente, os pesquisadores observaram que, quando o ácaro está infectado pelas duas bactérias simultaneamente, a carga viral se mantém no mesmo nível dos indivíduos que não possuem nenhuma delas. Isso indica uma possível competição entre os simbiontes, que anula seu efeito de restrição da replicação viral. Segundo o professor Eric Aguiar, “o achado de que Spiroplasma pode diminuir a replicação viral, assim como Wolbachia, é uma grande descoberta — especialmente considerando que Wolbachia já é amplamente utilizada para reduzir a transmissão de dengue e outros arbovirus no mosquito Aedes aegypti. No entanto, o fato de Spiroplasma também ocorrer naturalmente em alguns mosquitos e flebotomíneos, assim como Wolbachia, levanta um alerta: essa competição entre bactérias pode comprometer uma das estratégias mais recentes e promissoras no combate às arboviroses”.
Essas interações simbióticas representam ferramentas com alto potencial para uma agricultura mais sustentável. A utilização de Wolbachia ou Spiroplasma em populações de ácaros pode reduzir a propagação de vírus que afetam as plantas, diminuir a dependência de agroquímicos e beneficiar a saúde do solo e a biodiversidade dos ecossistemas agrícolas. Além disso, o estudo contribui para o desenvolvimento de práticas mais eficazes no manejo integrado de pragas, oferecendo soluções que aliam inovação científica, proteção ambiental e segurança alimentar.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Laboratório de Bioinformática de Vírus, em colaboração com pesquisadores da UESC, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, França). Para mais informações, acesse o artigo completo em: https://doi.org/10.3389/fmicb.2025.1570606 .
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